O Nobre Viajante

Um Relato de Formatura

Leonardo Cunha

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Na parábola do Bom Samaritano, um homem ferido na estrada é ajudado por um simples viajante, após ser ignorado por autoridades políticas e religiosas. A moral revela que para quem sofre, não importam os títulos, mas apenas a mão amiga que se estende ao seu socorro.

Na estrada da Medicina somos, por vezes, o nobre viajante e outras, o homem moribundo. A jornada é difícil desde o início, com muita dedicação para passar no vestibular. E assim como o cessar das dores de parto ao nascimento, celebramos com alegria nosso nome na lista de aprovados.

Chegamos empolgados, prontos para conquistar o mundo. Depressa, somos alertados, em aulas de Ética, que não seremos mais pessoas comuns, mas “Estudantes de Medicina”. E assim as manchetes noticiarão nossos nomes caso nos envolvamos em algum delito.

No imaginário social, espera-se grandeza de caráter do médico. Como disse o tio Ben: “grandes poderes, trazem grandes responsabilidades”.

Li uma vez, em “Medicina Centrada na Pessoa”, que a transformação do jovem acadêmico em médico nos obriga a trilhar os altos e baixos da vida humana. Viver como rotina situações as quais a maioria das pessoas vive uma vez ou outra e/ou passa todo tempo fugindo delas. Como doenças, morte e luto. Mas também há cura, restauração e vida. É intenso, mas gratificante.

Não faltam nomes para decorar, provas para se desesperar, plantões para se esgotar. Assim como muitas brigas e competição, celebração e alegrias.

Os pacientes nos trazem ensinamentos que transcendem qualquer livro. Já nossos mestres nos mostram como praticar uma medicina sóbria, justa e respeitosa. Exceto, os maus exemplos, os quais nos ensinam bem o que não fazer.

Em meio a uma pandemia, minha turma, a Centésima Turma de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina, Turma Prof.ª Dr.ª Kátia Lin, alcançou ao almejado diploma. Foi de um jeito atípico, mas carinhosamente bem elaborado através de uma solenidade por videoconferência.

Olho para trás com o sentimento de família. Afinal, eu e meus colegas, sempre seremos filhos da mesma casa. Peço ao Senhor que sempre fundamente nossa unidade no perdão a nós mesmos, ao outro e às circunstâncias. Definitivamente, o que habita em meu coração sobre nosso Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago e tudo vivido naqueles corredores é a saudade.

Enfim médico prossigo para próxima grande aventura. Seguirei caminhando sob Graça do Médico dos médicos em minha prática clínica. E estou certo de que Ele estará a me transformar em um nobre viajante, uma mão estendida por amor ao próximo.

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Leonardo Cunha

Medicina Narrativa, Teologia Reformada e mais alguns Insights Aleatórios.