A Tenebrosa Noite da Alma

Depressão & Graça

Leonardo Cunha
14 min readApr 25, 2019

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Garanto que não sei por que estou triste; A tristeza me cansa, como a vós; Mas como a apanhei ou contraí, do que é feita, ou do que terá nascido, ainda não sei. A tristeza me fez um tolo tal que é difícil até saber quem sou. (Antônio, em O mercador de Veneza, William Shakespeare)

Um dia enquanto tomava um café com um casal de amigos, também estudantes de medicina, nos surgiu um tema interessante: “Por andamos sempre tão tristes em nossa faculdade?”. Em um curso de Medicina, não é incomum encontramos nossos colegas passando por quadros depressivos. O excesso de demandas, a pressão social devido a profissão, a competitividade dos colegas, o terrorismo dos professores e entre outras causas, gera um profundo senso de solidão e desesperança. A realidade varia do abuso de medicações antidepressivas até os casos de suicídio por várias partes do mundo. Em busca de maior capacitação para lidar com pacientes, familiares, colegas e amigos passando por transtornos depressivos, encontrei o livro “Depressão e Graça” do Pr. Wilson Porte Jr., base para qual estarei estruturando esta reflexão.

Então o que é a Depressão?

Quando falamos de Depressão, não falamos de uma doença, mas um grupo de transtornos depressivos. Alguns exemplos retirados da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V): t. disruptivo da regulação de humor, t. depressivo maior, t. depressivo persistente (distimia), t. disfórico pré-menstrual, induzido por substâncias/medicamentos, associado a outra condição clínica, entre outros (DSM V). Em geral, nos referimos popularmente ao episódio Depressivo Maior.

Em todo mundo, cerca de 121 milhões de pessoas apresentam um quadro depressivo. Além disso, aproximadamente 20% da população sofrerá com a depressão em algum momento da vida. Segundo o British Medical Journal, a Depressão é primeira causa de morte prematura e incapacitação na faixa etária de 18 a 44 anos. Mulheres são duas vezes mais afetadas que homens. Há dois picos etários para aparição do primeiro episódio: entre 12 e 24 anos e após 65 anos. Quando há parentes de primeiro grau afetados na história familiar, o risco de incidência aumenta de duas a três vezes. Em relação ao sexo, mulheres carregam um risco dobrado em relação aos homens. Quando se considera mortes violentas ao redor do mundo, o suicídio, possível complicação e desfecho trágico da depressão, com 49,1%, supera os casos de homicídios (31,3%) ou óbitos em guerras (18,6). Dados retirados do British Medical Journal e de citações de Murray D., 2012 do livro “Depressão e Graça”.

A etiologia da Depressão ainda é mal compreendida, mas é evidente seu caráter complexo e multicausal, que inclui a influência de pré-disposição genética (história familiar), concentrações anormais de neurotransmissores, má regulação hormonal, eventos estressantes da vida, sexo, personalidade, uso de medicações, entre outros. Dados retirados do British Medical Journal.

Os principais sintomas usados no diagnóstico são uma tristeza excessiva na maior parte do dia quase todos os dias (humor deprimido) por um determinado período, a perda de interesse em atividades que antes traziam satisfação (anedonia) e o prejuízo funcional no dia-a-dia e na ocupação do indivíduo. Outros sintomas comuns são: perda ou aumento do apetite e do sono, redução do desejo sexual, agitação ou lentidão motora, sentir-se “sem valor”, com “muita culpa”, com baixa energia ou com dificuldade para se concentrar e ter ideações suicidas. Dados retirados do British Medical Journal.

A Depressão é uma situação nova na História?

O termo depressão é recente, nascido durante o século XX com a publicação da sexta edição do Tratado de Kraepelin, mas a doença, não. Existem descrições do século I a. C., de Atreteu da Capadócia, semelhantes à ideia moderna de depressão. Por mais de 25 séculos, o termo Melancolia foi usado como uma caracterização difusa da doença que hoje chamamos de Depressão. No século XVII, os puritanos utilizaram o conceito de Melancolia, herdado do ponto de vista da medicina hipocrático-galênica. O puritano Richard Baxter (1615–1691) se aventurou para tentar apontar as causas da Melancolia: “O desequilíbrio, a fraqueza e a enfermidade do corpo. Por causa disso, a alma fica francamente impossibilitada de absorver qualquer sentimento de conforto”. Além disso, na Bíblia encontramos diversos relatos, como em Salmo 23.4 e Salmo 116.3, que sugerem sofrimentos oriundos de Depressão e/ou Ansiedade. O médico e teólogo Martin Lloyd-Jones (1899–1981) argumentou acerca do sofrimento psíquico de Timóteo por causa de uma ansiedade severa. Podemos analisar a vida de muitos outros personagens, como Jó, Davi, Salomão, Asafe, Jonas e outros, e encontraremos sinais evidentes de sofrimento psíquico. Todavia, ainda que a Depressão seja uma companhia antiga da Humanidade, em nosso século, estamos enfrentando um crescimento que tem afetado e incapacitado grande parcela da população mundial. Estima-se a depressão como segunda causa de incapacitação em todas as idades até o ano 2020. Dado retirado do British Medical Journal.

Quais os efeitos sociais da Depressão em nossa geração?

Quando falamos de doenças mentais em nossa sociedade, tocamos em uma ferida muito profunda. O conceito de Estigma Social gira em torno da ideia de um portador de um status “deteriorado” em meio ao padrão, que gera incapacidade de aceitação social do indivíduo. Os efeitos desse processo são múltiplos: perda de status social, redução da autoestima, expectativas de rejeição, isolamento, redução na busca por assistência e vulnerabilidade para outras condições clínicas. (Silveira, P. S. et al., 2012) Não é difícil imaginar exemplos quando falamos de doenças mentais. É comum tratar medicações como antidepressivos com suspeita porque são tarjas pretas, “muito pesados” ou “viciam”. Ou tentar tratar doenças mentais como se fossem apenas frescura, desvio de caráter, falta de atitude ou de fé. Imagine que você está com o pé quebrado e alguém lhe convida a correr uma maratona. Você responde “não, estou com o pé quebrado”. E seu “amigo” reage “Ah, você não acha que poderia tentar se esforçar mais?”. Não é incomum dizermos a pessoas passando por quadros de Depressão Maior coisas como: “Você precisa parar de ver a vida de modo tão negativo”, “Tente reagir e ser feliz, está tudo na sua cabeça”, “Todo mundo passa por isso, você está só se fazendo de vítima”. Ninguém diz ao diabético: “Você realmente precisa tomar remédios todos os dias?”. Ou a alguém com câncer: “Poxa, é só um câncer, tem pessoas que sofrem bem mais que você”. Ou um acidentado em colisão carro-moto que diz para si mesmo: “Está tudo bem, só preciso dormir um pouco.” (Porte Jr., W., 2016 + If Physical Health Problems Were Treated Like Mental Health Problems — Youtube)

Como é a Depressão para aqueles que sofrem ou cuidam dos que sofrem?

Andrew Solomon, autor do livro “O demônio do meio dia: uma anatomia da depressão”, descreve com base em experiências pessoais o sentimento de um portador de Depressão: “No pior estágio de uma depressão severa, eu tinha estados de espírito que não reconhecia como meus; pertenciam à depressão tão certamente quanto as folhas naqueles altos ramos da árvore pertenciam à trepadeira. Quando tentei pensar claramente sobre isso, senti que minha mente estava emparedada, não podia se expandir em nenhuma direção. Eu sabia que o sol estava nascendo e se pondo, mas pouco de sua luz chegava a mim. Sentia-me afundando sob algo maior do que eu; primeiro, não conseguia controlar os joelhos e, em seguida, minha cintura começou a se vergar sob o peso do esforço, e então os ombros se viraram para dentro. No final, eu estava comprimido e fetal, esvaziado por essa coisa que me esmagava sem me abraçar.”

A Depressão é como uma ceifa existencial para aqueles que sofrem e como uma bomba relógio para aquele que cuidam. A atmosfera que um depressivo carrega é difícil para seus cuidadores suportarem. Torna-se mais fácil então jogar a culpa no enfermo ou perder a paciência com a situação. Sem contar nos casos nos quais toda conta do problema é jogada para o pecado ou para o Diabo.

Charles H. Spurgeon (1843–1892), conhecido como “o príncipe dos pregadores”, traz uma palavra àqueles com esse pensamento: “Está tudo muito bem para aqueles que estão com a saúde robusta e cheios de espírito para culparem aqueles cujas vidas são doentias ou cobertas pelo pálido aspecto da melancolia, mas esta [doença] é tão real quanto uma ferida aberta, e muito mais difícil de suportar porque faz tanto mal na região da alma que, para os inexperientes, parece ser um mero caso de fantasia e imaginação doentia. Leitor, nunca ridicularize o nervoso e o hipocondríaco, pois a dor deles é real; embora muito [da doença] esteja na imaginação [processo de pensamento], ela não é imaginária”

Segundo Wilson Porte Jr., “não é sábio agirmos de modo precipitado, mas com graça, paciência, compaixão e oração”.

E inclusive nas cinzas da depressão, habita a chama da esperança. O psiquiatra Augusto Cury conta em seu livro “Não Desista de Seus Sonhos” como, após ser imerso em um episódio depressivo, pode passar por um processo de humanização e desenvolver uma nova humildade, capaz de fazê-lo entender como ajudar melhor aqueles ao seu redor com sua profissão. Essa é o mesmo tipo de esperança que compartilha o salmista em relação à fidelidade de Deus quando escreveu no Salmo 30.5: “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.”

Como podemos errar tentam superar o desafio da Depressão?

Wilson Porte Jr nos dá um bom lembrete: “Um passo irresponsável em nosso aconselhamento pode levar alguém à morte”. Com ênfase na questão de um alerta em relação às nossas atitudes, evitando aprofundar o estigma de condenação pela culpa em relação a entes queridos que se suicidaram, que alguns podem carregar.

Erramos principalmente em dois extremos para tentar superar a Depressão: 1) Ao considerar apenas meios religiosos; 2) Ao desconsiderar a dimensão espiritual do ser humano.

1) Considerando apenas meios religiosos

Quando cometemos esse erro como cristãos, partimos de pressupostos errados a respeito de duas doutrinas básicas: Graça Comum e Suficiência das Escrituras.

Muitos cristãos afirmarão: basta ler a Bíblia, aplicá-la e pronto, seus problemas mentais estarão resolvidos. Entretanto, no desejo sincero de defender a autoridade e o poder da Palavra de Deus, muitos esquecem para que as Escrituras se propõe a serem suficientes. Na Bíblia encontramos palavras eternas a respeito da natureza de Deus, do Homem, do Pecado, da Criação, da Queda, da Redenção e Salvação em Cristo Jesus, da Consumação dos Séculos e vários outros assuntos relativos a matérias de fé e conduta. Além de princípios muito úteis com os quais podemos construir uma cosmovisão para compreender nossa realidade e tomar decisões sábias. Mas não encontramos nela os mecanismos de ação de antibióticos. Então porque encontraríamos um Tratado de Psiquiatria?

Esse extremismo dos cristãos ainda abre brechas para falsos profetas infiltrarem ideias errôneas a respeito da Suficiência das Escrituras. Como a necessidade de “tirar a poeira da história” e relê-la a partir das “lentes da cultura”. Para esse pensamento deturpado, lembramos das palavras do Apóstolo Paulo à Timóteo: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Tm 3:15–17). É a nossa cultura que deve ser lida pelas lentes da Bíblia e não o contrário.

Além disso, temos o mal entendimento da Graça Comum. Segundo o teólogo R. C. Sproul, “Graça comum é a misericórdia e a bondade que Deus estende à raça humana.”. No sermão do monte, Jesus deixa isso claro: “porque Ele [Deus] faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.” (Mt 5.45b). Deus não espera a aprovação dos homens para manifestar Sua bondade a eles. O desenvolvimento do conhecimento médico e farmacológico é uma manifestação dessa graça comum. E aqui encontramos o famoso equívoco “ir ao médico e tomar remédios é falta de fé”. E se já existe esse pensamento em condições como HIV/AIDS ou Câncer, nas doenças psiquiátricas, que são tabus em toda sociedade, isso é levado ao extremo. A rejeição do papel do neurologista, psiquiatra e/ou psicólogo ou de psicoterapias e antidepressivos é muito mais um sinal de rejeição de fé e da providência divina, ao rejeitar a Graça Comum de Deus, do que de uma “fidelidade a Deus”.

2) Desconsiderando a dimensão espiritual do ser humano

Nesse erro desconsideramos a influência do Zeitgeist, espírito da época, em nossa geração e a doutrina do Pecado e dos efeitos da Queda.

O Zeitgeist, espírito da época, de nossos tempos tem como princípio e mais alta conquista a liberdade da subjetividade, ou seja, o centro de todas as coisas gravita na experiência individual do sujeito. Depois de tentar solucionar todas as questões do universo pela razão e falhar, o ser humano tem passado por uma Rebelião Romântica, termo de Charles Taylor em “Fontes do Self”. O indivíduo busca se libertar de todas as formatações que não se enquadram a ele. E passaria por cima de todo o universo para isso se fosse necessário. Nenhuma dor ou sofrimento podem ser suportados, pois ferem diretamente a supremacia do “eu”. Morre então o Homo sapiens e nasce, como chamaria Guilherme de Carvalho, o Homo sentimentalis ou homem psicológico.

Philip Rieff, sociólogo americano, descreve o Homo sentimentalis como: “(…) Treinado para ser incapaz de sustentar satisfações sectárias, o homem psicológico não pode ser suscetível ao controle sectário. O homem religioso nasceu para ser salvo; o homem psicológico nasceu para ser agradado. A diferença foi estabelecida há muito tempo, quando o “eu creio”, o clamor do asceta, perdeu o lugar para o “eu sinto”, a ressalva do terapêutico. E se o terapêutico deve vencer, certamente que o seu guia espiritual secular será o psicoterapeuta.”

A ideia de encontrar plenitude com base na subjetividade do eu parece muito bonita, mas não funciona na prática. O ser humano passa a tatear a existência no escuro em uma busca de alguma experiência que nem sabe nomear. Começa uma jornada desenfreada e ansiosa por sentido e identidade. Os reflexos dessa cosmovisão são visíveis em nossa geração frustrada por descobrir que a vida não é tão bela quanto sonhos do Homo sentimentalis, que parecem derivados de filmes da Disney. Estamos criando uma geração de flocos de neve existenciais, vulneráveis para as doenças mentais, para a automutilação e para as ideações suicidas por causa de ideologias utopistas que prometem mais do que podem oferecer.

Os caminhos do Homo sentimentalis são como o fruto proibido no Jardim do Éden, belos e atraentes à primeira vista, mas com gosto de cinzas na primeira mordida. E com essa analogia, entramos na importância de compreender a Queda e seus efeitos.

A Queda foi o processo de rebeldia da humanidade contra o Criador que gerou efeitos em todas as dimensões do universo. O ser humano destruiu sua relação com o Criador, com seu próximo, com a Natureza (Criação) e consigo mesmo. Ele perdeu sua verdadeira identidade e abandonou seu propósito original. O resultado disso está na famosa frase de Fiódor Dostoiévski: “Há no homem um vazio do tamanho de Deus”. E não há nada mais perigoso para nossa saúde mental do que a falta de propósito e de identidade gerada por esse vazio.

O Pecado é uma condição existencial intrínseca a todo ser humano que se manifesta através de erros morais (atos pecaminosos), herança da Queda da humanidade. Segundo Héber Campos Jr., por causa dessa natureza pessoal e parasita, o ser humano se encontra espiritualmente morto, cego, escravizado por suas paixões e em constante rebeldia contra Deus. O Pecado é Pessoal, ou seja, individual de cada ser humano, por isso costumamos tomar o conveniente caminho de terceirizar a culpa de nossos erros para outras pessoas ou para instituições abstratas, como “o sistema”. Quando, na verdade, a corrupção do sistema é um reflexo direto dos corações que compõe esse sistema, afinal todos eles são corruptos. Além disso, o Pecado é Parasita, mesmo nas boas intenções e nas obras aparentemente boas, a maldade se encontra entremeada. Nossa geração tem se esforçado para fazer o conceito de pecado parece horrível e perturbador. Quando, na verdade, quando somos pecadores, todos somos nivelados moralmente por baixo, então somos libertos da expectativa de esperar demais algo de nosso próximo. E as grandes falhas de caráter que vemos nos noticiários, em nossas profissões, em nossas famílias e em nós mesmo, passam a fazer sentido. O problema que não gostamos é que o conceito de pecado gera uma necessidade: precisamos de salvação.

A solução para isso está na obra expiatória de Jesus Cristo na Cruz do Calvário, também chamada de Redenção. “Dando graças ao Pai que vos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, e que nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o reino do seu Filho amado; em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus.” (Cl 1.12–20). Jesus Cristo nunca se propôs a ser apenas um Mestre Moral, Ele se apresentou ao mundo como o Deus Filho que veio para reconciliar todas as esferas que haviam sido quebradas pela Queda da Humanidade. E demonstrou simultaneamente a Justiça e o Amor de Deus, pagando com seu próprio sangue por todos os erros morais da humanidade e, ainda sim, trazendo libertação da natureza escravizadora do pecado e injetando uma nova vida, abundante e eterna, com identidade e propósito em todo àquele que nEle crê e confessa os seus erros (pecados).

Na tentativa de abolir a culpa — pois ela dói — conseguimos aumentar os índices de suicídios. Como afirmou o teólogo G. K. Chesterton: “Você diz que confessar os pecados é algo mórbido. Eu lhe digo que mórbido é não confessá-los. O mórbido é ocultar os pecados, deixando que eles corroam o coração”. Ferida infectadas, quando ocluídas, supuram, formam coleções de pus, se disseminam no sangue e, sem o tratamento adequado, levam ao óbito. Assim é o pecado e seus efeitos, toxinas que constantemente cultivamos nos escuros porões de nossa existência. Então abra a janela, deixe a luz entrar. Se arrependa, lamente, chore, confesse a um amigo, se perdoe, perdoe alguém e busque reconciliação com você mesmo, com os outros e com Deus. Assim começa o processo de cura.

Se buscarmos tratar nossas doenças mentais, como a depressão e a ansiedade, ignorando nossa doença existencial, passaremos o resto da vida viciados em morfina atacando sintomas, quando, na verdade, precisamos de antibióticos para vencer a infecção. Com isso, encontraremos uma paz preciosa que excede todo conhecimento e supera toda circunstância, inclusive a tenebrosa noite da alma, a depressão.

Através de um olhar gracioso e amoroso à luz das Escrituras, somos capazes de nos afastar dos extremismos, aconselhar e demonstrar a Graça na vida dos que sofrem e encontram em Deus uma esperança inabalável nas noites mais tenebrosas e escuras de nossas almas.

Escrito por Leonardo P. V. da Cunha, Florianópolis, 2018.

Referências:

SILVEIRA, P. S. et al. Revisão sistemática da literatura sobre estigma social e alcoolismo. Estudos de Psicologia, 16(2), maio-agosto/2011, 131–138. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v16n2/v16n2a03.pdf. Acesso em 30 mai. 2018.

CANALE, A.; FURLAN, M. M. D. P. Depressão. 2006. Arq Mudi. 2006;10(2): 23–31.

PORTE JR., W. Depressão e graça: o cuidado de Deus diante do sofrimento de seus servos. São José dos Campos, São Paulo: Fiel, 2016.

BRITISH MEDICAL JOURNAL. Depressão em Adultos. 2018. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/55. Acesso em 30 mai. 2018.

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Leonardo Cunha

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